Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO
Felizmente hoje existe um maior número de tratamentos para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Um deles é a Integração Sensorial.
Um passo importante foi passar a ver este diagnóstico como uma
manifestação orgânica com múltiplas interações causais, entre elas, os
fatores ambientais. Provavelmente amenizou a responsabilidade, que foi
durante muitos anos, depositada meramente aos pais, ligando o autismo somente à falha na relação mãe e filho.
A
ciência cumpriu o seu papel em ajudar a se viver melhor. As mães
ficaram mais abertas e informadas para buscar os recursos terapêuticos
para seus filhos.
Autismo e processamento sensorial
Nas recentes descobertas cada vez mais está
se comprovando que existe um número bem maior do que se pensava de
pessoas do espectro autista que apresentam um certo tipo de
comportamento devido a falhas no processamento sensorial. E que isto
começa desde a mais tenra idade ficando mais perceptível na fase de
socialização da criança.
Uma criança que aos 2 anos de idade não se
comunica tem grandes chances de ter apresentado alterações desde bebê no
ciclo dormir/acordar, durante a alimentação, banho, trocar de roupa ou
no modo de brincar, se movimentar e interagir. Não necessariamente em
todos estes itens, mas em alguns que estão relacionados ao modo de regular os
estímulos sensoriais do seu próprio corpo e do ambiente.
Isto
se deve a uma diferença de organização neurológica que ocorre em muitas pessoas com TEA, no modo de receber, modular, processar, integrar as
sensações e responder em forma de comportamento adaptativo.
Adaptar-se é o
desafio do ser vivo.
Para o homem que segue a vida tendo que dar conta
da linguagem e emoção fica ainda mais difícil quando existe alguma
dificuldade nos elementos fundantes de sua personalidade.
O modo
de perceber a si mesmo e ao mundo está relacionado como o nosso cérebro
organiza as experiências, que são no mínimo sensoriais, e as transforma em vivências significativas
trabalhando sistemicamente para a
regulação entre as naturezas, do
homem com o ambiente que vive, e viver coletivamente com outros homens com sua capacidade de auto-regular-se.
Muitas
crianças com TEA sofrem na interação pois o sistema de auto regulação,
de origem neurológica que só existe mediante a um bom processamento sensorial, está funcionando em defasagem e por isso que é
difícil por ex, aceitar o toque do outro, a espera, ruídos e mudanças no ambiente, aceitar certos
tipos de roupas e alimentos, brincar com outras crianças, aguentar o
olhar do outro, perceber seu corpo no espaço, regular as emoções, entre outros.
O começo
Muitas crianças chegam no "alerta vermelho" de não ter prazer em
brincar, em ficar nos ambientes sociais, com alto nível de stress, ou por
outro lado, se mostram apáticas sem saber iniciar uma brincadeira.
A terapia de integração sensorial busca entender o que causa a dificuldade de desempenho em cada criança por meio de uma atitude de como poder ajudá-la a "fazer as pazes" consigo e com o que o cerca.
O programa
A partir de uma avaliação específica vamos construindo junto com a criança e com o que a família nos traz, recursos sensoriais que funcionam como uma nutrição adequada criando boas oportunidades para se chegar a auto regulação possível, dentro do contexto de cada um.
Veja também
Brincando com recursos sensoriais
O que caracteriza uma terapia de integração sensorial - linhas gerais
- um ambiente rico de estímulos onde a criança possa fazer escolhas e experimentações: equipamentos e materiais que promovam a pesquisa da criança com elementos que incentivem o bom uso dos 7 sistemas sensoriais de forma integrada nas brincadeiras.
- terapeuta numa atitude de mediador do processo dando apoio nas escolhas e incentivando as explorações, inclusive como responsável em modular as vivências para se chegar a regulação funcional
- família presente na terapia contribuindo e fazendo parte deste processo
- o
principal: em terapias com crianças o processo acontece pelo brincar e o prazer que decorre disso pode virar aprendizagem.
Boas vivências nos levam a querer crescer, aprender, comunicar e continuar vivendo com os outros.
Veja também Autismo e terapia ocupacional