sábado, 21 de novembro de 2015

Brincar com o que temos!

No princípio era uma caixa de papelão jogada no lixo.
Sim, ainda tem gente que joga materiais recicláveis no lixo comum. 
Mas não tem nada não. A gente faz ter sempre sim, 
algum motivo para brincar!

Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Um dia saindo de casa, com pressa para trabalhar, tive um momento daqueles que só quem é terapeuta ocupacional entende. Parei e vi algo que me encheu os olhos: uma caixa de papelão de maquina de lavar louça destinada a virar lixo. Grande, com espessura larga. Perfeita! 
Para quê?

Caixa de papelão que virou tudo: nave espacial, maquina de lavar, caixa maluca que vira e vira muitas vezes...tudo que a imaginação quiser
No ímpeto sabia que ia servir para alguma coisa, mas confesso que nem imaginava o que iria provocar na criançada. 
A gente nunca sabe mesmo. Imagina...

Terapeutas e famílias, descobrimos que dá para fazer mil coisas com a caixa de papelão, em tempos e modos diferentes...dependendo do que a criança gosta, precisa e inventa:

-caixa vazia: sentir e organizar corpo em diferentes espaços.Ocupar, entrar, ficar, sair. Em posições diferentes da caixa e do corpo da criança fazendo novos planejamentos e mapas de esquema corporal.

Se organizando em ambientes com menor espaço.









-caixa cheia de brinquedos, de bolas. Sentir o corpo em contato com elementos sensoriais, movimentar o corpo na caixa. Sentir a caixa movimentando o corpo, nas "viradas malucas".

"Caça ao ninja"

-incentivar a imaginação: o que a caixa pode se transformar? Numa nave espacial que vai para lua? Num esconderijo de ninjas? Ou num lago quente de peixes coloridos?

-ações com brincadeira de desafios: "como você pode entrar na caixa sem tocar as mãos nela?" Saber entrar na caixa de maneiras diferentes. Provocar a criança ter uma ideia prévia,  subir em algo, ou pela escada, ou se pendurando no trapézio, planejando e experimentando a ação da gravidade e chegar ao que se planejou.



-jogo: para aqueles que adoram sentir o corpo como se tivesse dentro de um liquidificador...rsrsrs ...inventamos até um jogo de rolar o dado grande e esperar ver quantas vezes a caixa maluca deveria virar. 

Vale a pena ouvir e ver as gargalhadas!!! Imaginem sentir as bolinhas se movimentando pelo corpo enquanto vira  a caixa. Tem até criança que aprende a "roubar" no jogo para tentar o dado cair sempre no seis. 
É estratégia, não é?

O que fazer com meu corpo para lidar com as mudanças?

-ainda: a caixa serve para subir e ser um objeto intermediário para escalar...e muito mais...tudo que couber na imaginação.

Como na terapia de Integração Sensorial provocamos situações de desafios sensório motores em que a criança escolhe e toma prumo de sua brincadeira precisamos ter sempre na sala materiais versáteis. 

Precisamos também estar disponíveis para que a nossa postura seja similar e podermos proporcionar novas e ricas oportunidades.

A criatividade da terapeuta pode engatilhar processos na criança... e vice e versa.
A via é de mão dupla. 
Disponibilidade para fazer o caminho experimentando, descobrindo, criando.

É bom saber: sob a perspectiva da terapia de Integração Sensorial há recursos sensoriais que auxiliam a regular o estado de alerta, e isto acontecendo, levar a um estado de prontidão de corpo, mente e condições afetivas possibilitando melhor envolvimento e criatividade com crianças que por algum motivo precisam de apoio para brincar e se comunicar de acordo com sua idade. 
Se divertindo.

Este é um depoimento de uma pessoa que viveu em uma época que brincar com um pneu de velocípede tentando equilibrá-lo com uma pedaço de arame...era uma diversão.

sábado, 30 de maio de 2015

Meu trabalho é uma brincadeira!!!


Minha parceira me clicando na brincadeira compartilhada
Infinitos modos de expressão.

Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Hoje fui surpreendia por uma pergunta espontânea de uma criança de 9 anos na sessão de terapia ocupacional:

" Beth, você trabalha? 
Respondo: aqui é o meu trabalho. 
Ela insiste: " mas que horas você trabalha?"
Respondo: as horas em que estou aqui. 
Ela comenta com ênfase: "mas aqui a gente brinca!".
Comento: pois é...meu trabalho é brincar!
E mais uma vez ela me faz uma surpresa:
" quando crescer eu quero esse trabalho."

Uma e outra se apresentaram surpresas!!!

Sabe aqueles momentos que são como se fossem frestas na vida, mas que na verdade podem ser afirmativos da existência?!
Sim, neste dia testemunhamos a nossa.

domingo, 17 de maio de 2015

Brincar e praxia

Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Relato breve de uma sessão de terapia ocupacional em um ambiente de Integração Sensorial com um adolescente com dificuldades em aprender na escola e na autonomia das atividades cotidianas.

"O que vamos brincar hoje?
Já sei...quero fazer uma casa.
De qual material?
Com os materiais da sala...
...deixa eu tornar realidade a casa que sonhei.
e...não tem teto?
Não, quero ver as estrelas.
Tem porta?
Tem.
Esta é a melhor ideia que já tive!
Poderia ficar aqui para sempre..."


Brincar construindo o que imaginou não vem só do querer.
Vem da maturidade,
vem das oportunidades da meninez
e vem da habilidade em poder ter uma ideia  sobre algo, planejar e saber executar os passos do fazer propriamente dito. Isto requer um domínio de praxia, processo que está no cerne de nossa relação com o mundo e nas aprendizagens. Principalmente quando nos deparamos com uma situação nova e/ou temos que criar.
Tarefa não muito fácil para algumas crianças com  alteração no processamento sensorial, que apresentam dificuldades de aprendizagem, situações como TDAH e autismo, entre outras.


Imaginar, olhar para o ambiente como um todo, escolher os materiais, combinar e montar em sequência requer maturidade do processamento sensorial.
Para chegar neste ponto de imaginar a casa de seus sonhos P. vivenciou muitas brincadeiras nas sessões de terapia ocupacional sendo incentivado no ambiente de integração sensorial.

Brincar envolve praxia e esta para se desenvolver na criança precisa ser por meio de brincadeiras.

Por isso, adulto, tenha em mãos:

-disponibilidade em criar situações novas e motivadoras onde a criança amplie o repertório de brincadeiras. Experimente, imite, erre, acerte, crie, recombine e renove. Diariamente.
-um ambiente rico de materiais que se transformam e podem se recombinar
-conhecimento de neurofisiologia sobre integração sensorial, desenvolvimento e aprendizagem. Se você é um cuidador procure ajuda de um especialista se sua criança tiver um repertório restrito para brincar.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Dica de livro para brincadeiras simbólicas


"O Livro com um Buraco",  da editora Cosacnaif ( eles são muito bons), é um daqueles livros reveladores para você viajar  com as crianças, inclusive, a sua, bem lá dentro e que, talvez, esteja adormecida.

Como o livro tem um buraco na lombada a cada página que se abre há um desenho diferente onde o círculo fica no meio podendo ser preenchido o espaço a partir da imaginação. Com desenhos, palavras, partes do corpo, fantoches e outros brinquedos.


São diversos temas do universo infantil. As representações podem virar histórias, sonhos, pesadelos, recortes, desenhos e pinturas...tudo que couber no mundo simbólico.

Tenho usado principalmente com crianças que por um motivo ou por outro estão em defasagem para imaginar e/ou desenhar.
Pode ser usado também auxiliando no programa de Integração Sensorial  no incentivo a criação de temas para as brincadeiras e praxias.
Além do desenho no papel que fica sob o livro colocamos a face, o cotovelo, o joelho...fazendo desenhos também no corpo.

A criançada entra na brincadeira fácil, fácil..e aí, já viu...brincou, imaginou, desenhou, pintou, escreveu.


                       


Dá até para ser uma ponte para a pintura livre onde a criança dá asas a imaginação.

Olha lá o foguete do espaço que foi recortado, colado e entrou na pintura

Precisamos continuar valorizando recursos para incentivar a espontaneidade da criançada. 

Que não seja tudo pronto, que não seja tudo exposto. 
Que o mistério ainda faça parte da criação!

segunda-feira, 2 de março de 2015

Como usar histórias sociais

    

Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Histórias Sociais são usadas comumente com crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista como recurso para amenizar ansiedade, ajudar em situações-problema e a possibilidade da construção da criação de novos caminhos junto com a criança, principalmente em contexto de inclusão social. 
Existem várias formas de fazer a depender do nível e necessidade da criança e do adolescente.
Coloco o link abaixo de um material que achei completo e super explicativo.
Em caso de dúvida, peça ajuda a um profissional especializado.


"Histórias sociais são descrições curtas e simples que são criadas com a intenção de ajudar a criança a entender uma atividade ou situação particular, junto com comportamentos que são esperados da criança nessa situação particular. Essas histórias também dão informações precisas sobre o que a criança poderia testemunhar ou experimentar em uma situação particular."


segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Memória e afeto


No grupo de estudo de Eutonia e Memória assisti a um filme ( curta) que me deixou impactada pela competência da equipe em passar de forma tão lírica um assunto complexo que está no nosso dia-a-dia: a relação com pessoas em fase de envelhecimento com perda de memória.
São muitas reflexões que cabem neste filme.  Só algumas...

Como valorizar o contato afetivo e potencializador por meio das memórias?
Como poder entrar em relação com o outro de acordo com as possibilidades que se fazem presente no instante e não sempre sob os nossos filtros pré-concebidos?
Quem podemos ser ou como podemos viver acessando as memórias?
É possível fazer novas conexões? ou...

O que cerca pode servir para ligar?

A vida segue a qualquer tempo.
E como podemos vivê-la?
Escolha?
Destino?
Oportunidades?

O velho e o novo não seriam expressões de uma mesma unidade?


DONA CRISTINA PERDEU A MEMÓRIA
Foto por Alex Sernambi: Pedro Tergolina e Lissy Brock
Antônio, um menino de 8 anos, descobre que sua vizinha Cristina, de 80, conta histórias sempre diferentes sobre a sua vida, os nomes de seus parentes e os santos do dia. E Dona Cristina acredita que Antônio pode ajudá-la a recuperar a memória perdida.
Direção: Ana Luiza Azevedo
Produção Executiva: Nora Goulart e Luciana Tomasi
Roteiro: Ana Luiza Azevedo, Jorge Furtado e Rosângela Cortinhas
Direção de Fotografia: Alex Sernambi
Direção de Arte: Fiapo Barth
Música: Gustavo Finkler
Montagem: Giba Assis Brasil
Uma Produção da Casa de Cinema PoA
Elenco Principal:
Lissy Brock (Dona Cristina)
Pedro Tergolina (Antônio)
Link do youtube

domingo, 22 de fevereiro de 2015

" Um mar de peixes-letras". Brincar a partir do centro de interesse - dica para crianças com TEA

Aliar o querido ao necessário
Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Em algumas crianças com Transtornos do Espectro Autista é comum, dentre outras características, a persistência numa determinada brincadeira e/ou apresentar resistências de tocar ou ser tocado. 
A atividade de hoje contempla esses dois fatos. 
Usamos polvilho e letras. Sim, polvilho. E por que não farinha? Pode também, porém neste dia ofereci polvilho, pois ao adicionar pouca água ao polvilho temos outra textura e resistência. Vale a pena conferir antes para saber se está no nível de possibilidade da criança.
É sempre bom lembrar que a própria natureza física (sensação da textura, forma, cheiro, cor, temperatura, volume, plasticidade e resistência) dos materiais provoca situações diferentes em nosso corpo como a forma de pegar, a intensidade, força, duração e os ajustes que forem necessários.

Aproveito a oportunidade para lembrar aos terapeutas que: de preferência, façam em vocês primeiro o que for propor aos clientes. De quebra vocês aprendem sobre si e quanto a atividade que irão propor. Reflitam sobre os efeitos, as modificações, os ajustes. Aproximem-se do que estão propondo. Cuidado com as receitas pré-formatadas. 
O que dá certo para uma pessoa pode não dá para outra.

Onde está o peixe H, igual ao escrito no dorso da mão?

Sobre esta atividade: acham que é fácil? Depende, para quem. E o que podemos inventar.
F. gosta muito de brincar com letras e neste dia me pediu incessantemente. Como estamos em um programa de Terapia ocupacional sendo enriquecido pelo modelo de Integração Sensorial, F. vem evoluindo muito na hipersensibilidade tátil e atualmente consegue brincar com materiais diferentes. Por isso sugeri o polvilho integrando ao que F. adora e favorecendo pequenos desafios implícitos na atividade: de natureza física, a combinação do polvilho e água estimulando a riqueza de sensações e destreza motora manual; e de natureza cognitiva, incentivar uma simbolização  pela história considerando seu centro de interesse, sem falar a natureza de ordem emocional que sempre está presente.
"Demoramos para achar o H, pois ele estava mergulhado no fundo do mar. Foi preciso enfiar o indicador com jeitinho para conseguir".
Tantas coisas que fizemos desde a preparação até a arrumação que daria um capítulo descrever aqui.

O que refleti e sempre aprendo:
Começar pelo que F. escolheu o acalmou e possibilitou aos poucos ir complexificando a brincadeira.

O que confirmei do que acredito:
Sempre podemos dar nem que seja um mínimo passo seguindo o desenvolvimento.

O que nunca esqueço:
Só propor algo diferente se a criança estiver no tempo de maturidade e no ambiente favorável.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Brincando de escolher caminhos: recorte - tempo e espaço.


Dica de atividade inspirada na obra " Caminhando", de Lygia Clark

"As diversas respostas surgirão de suas escolhas".
 Lygia Clark

Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO

Existem muitas formas de refinar a coordenação das mãos, olhos e da percepção. Quem pensa que está isolado da maturidade global do sujeito está redondamente enganado. Em um simples recorte de uma linha, por exemplo, são requisitados vários domínios de cadeias musculares que irão se ajustar em sintonia aos tecidos e órgãos do corpo, ligados a todo sistema nervoso.  É movimento e percepção formando nova aprendizagem de forma integrada.
Além disso, estruturas do corpo são acionadas para manter a atenção com propósito e motivação. E assim fornecer energia para continuar outras experimentações.
Recortar também envolve ação sequencial e integração bilateral do corpo.
É espaço e tempo.
Nessa sugestão de atividade o recorte pode ser também escolha de fazer novos caminhos. Verificando os resultados.
Todos nós vivemos isto em situações corriqueiras. A criança, e especialmente na idade escolar, lida com muitos desafios nesta área. Ela está em formação ajustando os domínios do corpo e o uso dos instrumentos em suas diversas ocupações diárias: nas brincadeiras, nas atividades de auto cuidados e na escola.
Por vários motivos e diferenças maturacionais algumas crianças precisam exercitar mais que outras para passar por esta fase da forma mais divertida possível.
Portanto, vamos sempre ter o cuidado de não gerar momentos enfadonhos para criança exercitar seus olhos, mãos e cérebro. Além dos recortes livres e dos modelos conhecidos invente formas inusitadas, que sejam simples e que possam ser feitas em qualquer lugar ou a qualquer hora.

Para quem for importante saber, está comprovado cientificamente

Aprendemos melhor pela novidade e quando estamos motivados 
Repetindo, na diversão, aprimoramos nosso conhecimento.

Vai a dica de atividade: "Fita de Moebius"

Material necessário: papel de presente, tesoura e cola.

Escolher iniciar
Recortar na largura escolhida. Achei legal este papel de presente com linhas coloridas.

Passar cola nas extremidades do papel, avesso e direito para....

...colar de forma invertida. Formando o símbolo do infinito. Fita de Moebius.

Inicia de um ponto escolhido e segue recortando evitando encontrar o ponto inicial para continuar caminhando

recorta, recorta, recorta...formando caminhos até chegar em um ponto tão estreito que não dá mais para seguir. Escolher parar.

Dá para brincar com os anéis colocando no corpo, pendurando como móbiles. O que vale é a criatividade.

Esta sugestão de atividade vem da minha vivência com o trabalho da artista plástica Lygia Clark.
Vi também que é muito bem indicada para crianças ( e adultos) com impulsividade e deficit de atenção. É incrível como a criança gosta e fica mais aberta, que muitos adultos, em descobrir os caminhos que surgirão.

Quer saber mais sobre a obra de Lygia Clark?
Link "Caminhando" - Lygia Clark