quarta-feira, 7 de setembro de 2016

No banheiro, na escola, na festa, no parque. Vamos falar sobre Integração Sensorial?

"Meu filho é seletivo para comer, fica facilmente irritado, evita se sujar, não gosta de brincar com outras crianças, come demais sem saciar a fome, tem o sono agitado, não pára sentado na sala de aula, não pega direito no lápis, não olha enquanto estou falando com ele, fica pulando do sofá toda hora, vive caindo"...e outros detalhes na rotina que incitam as palavras: NÃO ou DEMAIS.
Ou até mesmo: meu filho é "preguiçoso", "mal-educado"," mal-humorado", faz "corpo mole", "folgado", "impulsivo", "desastrado", "desatento", "bom até demais, sem maldade".

Será que este modo de se comportar tem algo em comum para os pais ficarem preocupados?
Depende. É necessário observar a intensidade, duração e frequência nestes comportamentos.
Costumo dizer que: se algo está prejudicando o bem estar da criança e/ou das pessoas que estão em relação com ela, sim.
Precisamos ver o que está acontecendo.

Quando a criança brinca de forma diversificada ela aprende sobre si no mundo.
Essa relação vai abrindo caminhos para novos caminhos. Da plasticidade neural à social.

A princípio, Srs pais e cuidadores, todas as nossas atividades e ocupações diárias são resultantes de nosso amadurecimento global, que estão envolvidos vários aspectos.

Vamos falar sobre um deles: a Integração Sensorial. Habilidade neurológica que nos possibilita a todo instante nos ajustar num mundo cheio de informações sensoriais e organizar estas para uma boa adaptação, expressando pelo movimento, linguagem e emoção.

Ouvir, sentir pelo toque a textura, temperatura, pressão, dor, sentir o gosto, o cheiro, sentir o corpo se movimentando no espaço,  poder ficar em pé ou em outra postura num planeta que tem gravidade, sentir o corpo girando, olhar enquanto está falando ou enquanto está escutando. Poder sentir as diferenças de todas as sensações, o quanto é bom e o quanto é aversivo um som, um toque, algum alimento. Poder graduar a força, direção, duração e a intensidade dos movimentos, das expressões de emoções, organizar o pensamento e todas praxias. Nas diversas situações cotidianas.

Várias habilidades estão inseridas em diversas ocupações.
Brincar, escrever, comer, vestir-se estão interligados pelo engajamento da criança no contexto diário.

Acreditem. Para tudo isso é necessário, no mínimo uma boa habilidade de integração sensorial. É a partir dos sentidos que conhecemos sobre nós, inclusive sobre o mundo, interno e externo. Um não existe sem o outro. Somos o que somos porque há dentro e fora que se interdependem e se alimentam o tempo todo formando novos encontros...seguindo a vida.

Mas vamos ligar isto a prática...
Desde intra útero vamos colhendo e produzindo sensações. Isto só termina quando partimos desta vida.
Por alguns motivos no caminho pode ter alguns desajustes, ou ficarmos fora de sintonia em alguns momentos.
Por exemplo: um bebê que não consegue dormir no colo, ou tem sono intranquilo, não ficar confortável nos cuidados básicos, não brincar com outras crianças. Ou uma criança na fase escolar que  precisa de alguém para dizer as etapas para se vestir ou não consegue ficar sentado na hora da lição ou das refeições. Esses são alguns momentos dentre tantos que podem sinalizar que algo não está em sintonia.

O que fazer?

Primeiro entender, e aceitar, que todas estas ações tem um nível sensorial.
E que por este motivo podem ter relação com a maturidade de Integração Sensorial. Isto é, como são recebidas as sensações, processadas, moduladas, percebidas e utilizadas como formadoras de respostas. Ou, como me visto sozinho, como escrevo em uma sala de aula barulhenta, como ando de bicicleta ou como mantenho uma conversa.
Há pessoas que apresentam sinais de Disfunção de Integração Sensorial que têm um dia-a-dia bem complicado. E nem sabem disso.
Mas tem como melhorar.
Em seguida, sem pressa de um diagnóstico, procure um terapeuta ocupacional especializado em Integração Sensorial para esclarecer suas dúvidas e preocupações.
O terapeuta ocupacional é formado para analisar as ocupações da vida cotidiana e usá-las como ferramentas de conhecimento e autonomia.

Terapia de Integração Sensorial...um caminho.


Enquanto isso...

1- cuidado com os rótulos! 
Procure ajuda para saber se seu filho realmente faz "corpo mole" de propósito. Não o chame de algum apelido pejorativo. Tenho ouvido cada coisa que não faz bem para auto imagem de ninguém, muito menos de uma criança que está formando a personalidade.

2-não se culpabilize de nada!
"Meu filho é assim porque não estimulei direito?" Faça uma parceria com outras pessoas, terapeutas e médicos, se precisar. No intuito de entender melhor o que está acontecendo. Sua estimulação será muito válida, mas sua compreensão, melhor ainda!

3-não deixe o "tempo passar"
Recebo famílias de crianças grandes que foram aconselhadas por outros profissionais que insistem em dizer " é assim mesmo, dê tempo ao tempo", mesmo a mãe insistindo que algo não está de acordo com o esperado para aquela idade. Há uma linha tênue. Para mim se continua incomodando de algum jeito, escute o que você está sentindo e procure ajuda por conta própria. Quanto mais cedo, melhor.

4- procure não ver por um só lado. 
Há vários aspectos envolvidos. Nem tudo é só alteração de processamento sensorial e nem tudo é só emocional. Às vezes podem ser os dois, ou nenhum.

5-considere tudo importante, do desempenho escolar à felicidade cotidiana do seu filho. Mas sobretudo fique em contato com os sentidos! Eles são a base da nossa existência.

sábado, 2 de abril de 2016

Como parceiros podemos ir além...



...sim, neste Dia Mundial da Conscientização do Autismo desejo que a parceria seja a rede para sustentar as diferenças e criar melhores condições de vida para as crianças que estejam dentro do espectro do autismo, e suas famílias.

No meu dia-a-dia, trabalhando com Integração Sensorial, descubro a cada brincadeira que a terapia começa a fazer diferença quando encontramos um lugar comum de parceria. Os primeiros sinais de autonomia começam a se anunciar quando a criança percebe que estamos a acompanhando e não ditando o seu caminho. Entender como ela sente e construir junto com ela novas possibilidades de integrar tudo que acontece dentro e fora de seu corpo cria possibilidades de novas expressões de comportamento e sentimento de si, e do mundo.

Costumo ter em mente, e no coração, que estamos no mesmo barco, mas cada um no seu leme, ora ajudando mais, ora ajudando menos até chegar um dia de desejar uma boa viagem para o passageiro tomar seu rumo.

Portanto, neste dia, e em todos, desejo mais conhecimento, mais cumplicidade e acima de tudo...que mesmo contemplando toda diversidade e condições especiais, que a parceria nos leve além do diagnóstico.

Que a descoberta de ter TEA não seja um fim, mas só um começo de uma jornada que pode ser divertida, para todos nós.

Divirto-me sempre. Obrigada, gente!