segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Hipotonia resultante de disfunção do processamento sensorial – como a terapia ocupacional pode ajudar

Ana Elizabeth Prado
Credito 3/1670 TO

Há muitas origens e causas da hipotonia, algumas congênitas outras adquiridas. Nem sempre é fácil de diagnosticar, e principalmente quando a hipotonia leva a alterações muito além do aspecto motor.
Vale lembrar que nós amadurecemos numa relação contextual de vida. Estamos sempre em conexão com o meio externo e, interno, simultaneamente. Para isso temos um corpo que se estrutura ao longo da vida para poder fazer esta integração.
E quando o corpo amadurece em um tempo e de um jeito diferente da grande maioria? Ou ainda, quando o meio externo não favorece uma “chamada” para este amadurecimento?
Temos estruturas do sistema nervoso que são responsáveis pela regulação do tônus e que estão ligadas a outras estruturas centrais e periféricas do corpo criando mensagens para o ser humano se adaptar aos desafios da vida. O corpo age de “comum acordo biológico” para naturalmente tudo funcionar colaborando, sobretudo para a sobrevivência.
Mas nem sempre isso acontece com fluidez. Por vários motivos. Um deles pode ser pelo código genético com cromossomas que marcam um tipo de tônus. Outro jeito pode ser adquirido por fatores externos e internos afetando o funcionamento orgânico.
Dentre as causas da hipotonia encontramos a disfunção do processamento sensorial que tem origem nas estruturas do sistema nervoso central interferindo, no mínimo, nas etapas de maturação sensório-motora.
Como o desenvolvimento se dá pela cooperação quando algo não amadurece no tempo ou de forma harmônica há também uma interligação de fatores para se configurar o comportamento. Um processo engendra o outro.
Um tônus diminuído pode levar a criança explorar o espaço de forma “econômica” e isto pode levar a uma criação de repertório cognitivo em defasagem com o grupo. Um comando cerebral que regula o tônus muscular de forma inconsistente pode ser responsável também pela criança não ter inciativa em brincar de forma autônoma. Quando o estado de alerta estiver alterado pode resultar em dificuldade de sustentar a atenção numa brincadeira ou na interação social. Desta forma percebemos como o sensorial age sobre o motor e este sobre o cognitivo, e cada um sobre os demais.
Para saber a melhor forma de intervir seja no contexto clínico, nas brincadeiras em casa ou na escola é importante investigar qual a causa e o grau de hipotonia para conseguirmos influenciar na qualidade de desenvolvimento da criança.
Quando houver um ou mais dos seguintes sinais aliados a hipotonia é aconselhável passar por uma avaliação de terapia ocupacional com formação em Integração Sensorial:
-atraso de controle postural.
-alteração do estado de alerta e atenção
-dificuldade nas atividades diárias como alimentação, higiene, vestuário, inclusive a hora de dormir, acordar e sair de casa
-defasagens na coordenação motora ampla e fina
-defasagem no brincar
-alteração na interação social e estado humor
-defasagem escolar, em idade precoce ou tardia. Muitas atividades pedagógicas precisam de uma prontidão corporal para sustentar a atenção, planejamento, e coordenação motora global e fina.
-alteração em outros sentidos como do equilíbrio, tátil, auditivo e/ou visual.
Muitas vezes sintomas de “defensividade sensorial” como intolerância a alguns estímulos inclusive mudanças de posição e pouca habilidade de interação não são investigados prevalecendo a maior atenção somente ao impedimento motor.

Como a terapia de Integração Sensorial pode ajudar

 

 

Dentro da abordagem de Integração Sensorial sabemos que os sentidos vestibular, tátil e proprioceptivo tem grande influência no estado de alerta, na qualidade da atenção, no desempenho das aquisições motoras e nas demais modalidades sensoriais afetando, e sendo afetados pela regulação tônica.  O desenvolvimento se dá pelo funcionamento dos sistemas interligados: motor, sensorial, emocional e social.
Pode se chegar a uma melhor qualidade de tônus principalmente pelas combinações graduadas das informações sensoriais em um contexto de brincadeiras livres ou com um fim específico.
A terapia de Integração Sensorial é construída por meio de situações lúdicas para a criança conhecer e aprender a usar de forma integrada o seu corpo no tempo e espaço adequado para envolver-se nas atividades significativas a ela.

Sugestões para o dia-a-dia

Brincadeiras que favoreçam vivência proprioceptiva como pular, balançar, puxar, carregar. Subir em árvores e brinquedos de parque.
Aprender a sustentar seu corpo nas diversas posturas, de bruços, de lado, sentado, em pé, sempre no contexto lúdico.
Brincadeiras com músicas que favoreçam ritmo. Estabelecer início, meio e fim. Aprender a passar pelos momentos de transição, começar e parar.
Favorecer boas experiências táteis como massagens, toque corporal com pressão, poder se sujar, fazer comidas em grupo.
Brincar com massa de  modelar, argila e demais materiais de artes plásticas.
Ter sempre por perto para as brincadeiras: almofadas, massageador, bichos e bolas com diferentes pesos, formas e texturas
Quando for possível usar canudos, instrumentos de sopro e alimentos mastigáveis
Sentar em superfície firme e com pés apoiados. Sempre ver se o tipo de material favorece um contato para firmeza e sustentação do próprio corpo.
Vale salientar que tudo deve estar ao alcance da criança a depender da fase em que se encontra, dos seus desejos e possibilidades. A prioridade é o sucesso da criança.

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