Por Ana Elizabeth Prado
Crefito 3/1670 TO
Do ponto de vista fisiológico tocar envolve um grande número de receptores, sensações, neurônios, músculos, lugares de superfície e profundidade...da pele pra dentro com o próprio corpo, da pele pra fora com o meio externo, da pele de quem toca e da pele de quem é tocado.
Tocar tem nome e endereço, mas infinitas representações subjetivas. Lugar do
físico e do sensível. Da construção de identidade, de linguagem, de
comportamento. O fluxo de
informações entre a pele e o cérebro é contínuo até quando estamos dormindo. Cada
corpo se retroalimenta dando um sentido de unidade e é alimentado a partir das
interações com os outros corpos.
Desde o útero até o final da vida os sistemas
tátil e proprioceptivo constituem um papel fundamental no sentido do corpo. E
juntos com os outros sentidos irão integrar corpo, percepção e emoção
preparando para aprendizagem, diariamente..
Há uma
infinidade de escritos sobre o tocar pela perspectiva das funções
neurológicas, afetivas e espirituais. Por ora, gostaria de comentar sobre o nosso tocar
como terapeutas.
Somos
terapeutas que tocamos muito. Valorizamos o uso das mãos, as nossas e das
pessoas que nos procuram, dos objetos e do uso destes, visando a autonomia.
O toque pode
organizar, nutrir, sinalizar território, proteger, direcionar, conhecer,
discriminar, comunicar, afetar, compartilhar.
O tocar pode ir além da pele, além do corpo físico.
Por tantos motivos e significados devemos
sempre ter o cuidado ao tocar as pessoas em nossos atendimentos já que o uso
inadequado pode ser, ao contrário, um elemento desagregador dos seres em
questão. Por exemplo, algumas pessoas precisam, pelo menos durante algum tempo, que tenha algum elemento intermediário na pele ao ser tocado, como a própria roupa ou um lençol. Muitos bebês com hipersensibilidade tátil sofrem quando são tocados diretamente pois recebem o toque como invasão, como algo desagradável. É necessário conhecer a história do sujeito, suas preferências sensoriais e investir nos elementos que organizam para daí se construir juntos outros modos de conhecimento de si e do mundo.
Que tal umas
perguntinhas reflexivas?
A partir de
que lugar você toca o outro? A partir do lugar de acolher, conhecer ou só pela
necessidade em aplicar uma técnica?
O que guia o seu toque? Como se constrói o setting terapêutico a partir
do toque?
Como você fica em sintonia com o cliente para perceber os efeitos do
seu trabalho?
Em que nível
de importância você coloca a técnica e o conhecimento do sujeito, incluindo
família e cuidador?
Em
que nível de presença do seu próprio corpo você se relaciona com o corpo do
cliente?
Como lhe afeta tocar e ser tocado?
Nenhum comentário:
Postar um comentário