sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sistema Tátil – lambuzar para organizar

O que sentimos e fazemos a partir da nossa pele?

Por Ana Elizabeth Prado
Credito 3/1670 TO

O tato, ao contrário do que às vezes pensamos, não está localizado só na mão, mas em toda extensão do território corporal, na pele e mucosas. A pele que faz a fronteira do corpo entre o meio externo  é a mesma que informa as diferentes qualidades das informações táteis: o toque superficial, profundo, dor, temperatura, influenciando no funcionamento dos demais sistemas. O tato protege e discrimina devido aos diferentes receptores sensoriais espalhados por todo o corpo organizando, processando e regulando tanto funções físicas como comportamentais. Dos receptores aos centros superiores, e destes organizando respostas para entrar em relação. O que sentimos nos ajuda a agir!   
Desde a vida intrauterina o sistema tátil, o sistema proprioceptivo e o vestibular são os principais responsáveis pelas informações sensoriais primárias do corpo. Do espaço líquido ao ambiente atmosférico  somos continuamente inundados de informações de dentro e fora do nosso corpo. As primeiras relações vinculares irão se constituir pelo tecido corporal e o funcionamento dos órgãos de relação. Mamar e amamentar, por exemplo, são relações de reciprocidade que vão alimentando e estruturando vidas, da mãe e do bebê.
O mesmo acontece com todas as habilidades natas e aprendidas:  é pela vivência que vai integrando uma funcionalidade dinâmica configurando um modo de comportamento.
Alguns estudos mostram que a privação ou a diminuição de experiências táteis aumentam a predisposição para alteração de habilidades de interação social, problemas de coordenação motora e regulação do nível de atenção que contribuem para dificuldades de aprendizagem, entre outras consequências.
Estamos vivendo numa época em que o sistema que regula o nosso jeito de estar no mundo pouco está em uso ou funciona de forma restrita.
O excesso de limpeza, o corre-corre do tempo nas grandes metrópoles, a “ciência das infecções” e muitos outros fatores fazem diminuir cada vez mais as oportunidades de as crianças poderem vivenciar naturalmente as explorações táteis necessárias para um saudável desenvolvimento, unindo o prazer e a descoberta como fontes para sustentar o seguimento da vida.
Nestes tempos de Páscoa, e muito chocolate, vale aproveitar a oportunidade de deixar um lembrete: que todos, se quiserem, se lambuzem muito! Da cabeça aos pés!
Vida Nova!

Fontes inspiradoras: as crianças e famílias com as quais eu trabalho (muito obrigada), e os livros:
"Sensory Integration and Self-Regulation in Infants and Toddlers: helping very young children interact whit their environment" Williamson, G.; Anzalone, M. E. Zero a three, 2001
"Tocar - O Significado Humano da Pele" Montagu, A. Summus, 1988

10 comentários:

  1. Ai, que delícia... Vamos fazer amanhã.... Bjs Ludmila e Fefe

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  2. Obrigada, Érima! Que seja praticado!
    Um abraço

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  3. Oh, sim, Ludmila! Aproveite! É bom que o irmão já entra na dança tb...hehehe

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  4. Beth, Adorei o texto! Fala tudo de um modo bem orgânico, bem seu!
    Tomara que o nosso mundinho consiga recuperar o fazer sensorial, por todas as vias. Fazer mais e não perder o antigo, nossa apreensão do mundo pelos poros do corpo (vias sensoriais). Beijos

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  5. É por aí...nestes tempos com tantas tecnologias disponíveis minha vontade é que elas estejam a serviço de corpos que manejam o que sentem, o que querem e o que fazem, compartilhando mundos.

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  6. Nooossa, adorei o texto! é sempre bom complementar os estudos, as aulas e ajuda na prática lendo um pouquinho por aqui! Dá pra aprender de uma maneira diferente!Eu adoraria poder fazer isso com a minha paciente de senso... beijos

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  7. Experimente fazer sentindo o que acontece no seu corpo quando vc lida com o corpo do outro. Vira um acontecimento recheado de sentidos, para todos envolvidos.
    Boa viagem!

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  8. Nem voltei aqui pra dizer como consegui utilizar essa ideia né? Mas então, foi maravilhoso, utilizei com uma paciente com deficiencia visual e foi incrivel a resposta dela e ainda me permitiu avaliar as questões voltadas a alimentação, que permitiram que eu visualizasse as práticas seguintes. Foi maravilhoso mesmo e até o vínculo com ela havia melhorado, pena que na faculdade, os pacientes não são mais nossos depois que o ano acaba. Utilizar um pouco da sua ideia, mesmo com algumas modificações me ajudaram bastante na formação e mais ainda, me rendeu um super 10 na disciplina =D Cada dia me apaixono mais pela Terapia Ocupacional!

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    1. Fico feliz de ver brotar novos encontros. O seu encontro com vc mesmo e a profissão.
      E o encontro de vc com a sua paciente. Não está aí a verdadeira essência do trabalho com pessoas?um bom encontro...para todos. E a terapia ocupacional pode dar uma sustentação para isto acontecer. Boa sorte nas aprendizagens!!!

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