Por Marie Schenk
Autismo é reconhecido como uma
 desordem em espectro com vários graus de intensidade. É de difícil 
definição porque a síndrome é complexa e não há duas pessoas com o 
diagnóstico de autismo que manifestem a síndrome da mesma maneira.
Pessoas com autismo têm “atraso ou funcionamento anormal” em algum grau nas três áreas seguintes:
- Interação social
- Comunicação
- Padrões de comportamento que são manifestados através de interesses ou atividades estereotipadas, restritas e/ou repetitivas.
Porém, no autismo, um dos 
pontos-chave da dificuldade está no desenvolvimento emocional. As 
pessoas com autismo têm como desafio a motivação, a persistência, o 
auto-controle e a curiosidade.
 
O que mais caracteriza o 
autista não são os comportamentos apresentados, mas sim a omissão, o que
 a criança não faz, ou desconhece. O diagnóstico de autismo é mais 
preciso se baseado na dificuldade ou falha da pessoa em função do 
domínio específico sócio-comunicativo e relacional.
É importante ressaltar que o 
diagnóstico de Autismo, Asperger ou Transtorno Global do Desenvolvimento
 não prediz as dificuldades que a pessoa enfrentará na vida, tampouco 
define um prognóstico, e nem mesmo fornece aos familiares ou 
profissionais muita informação sobre o potencial individual da pessoa 
diagnosticada.
É muito provável que as 
características descritas da síndrome sejam descrições de mecanismos de 
defesa, e não de orientação inata. O nosso cérebro está sempre em busca 
de equilíbrio, enquanto processamos o que vemos, ouvimos, cheiramos, 
degustamos ou sentimos. Todas as nossas experiências sensoriais e 
emocionais impulsionam o crescimento de conexões, daí vem a necessidade 
pela busca da regulação.
Essa busca acontece através da
 auto-regulação e da corregulação emocional. Nós nascemos com a 
necessidade de desenvolver auto e corregulação, as duas estratégias são 
necessárias para que o mundo à nossa volta e as sensações das nossas 
experiências façam sentido para nós. Sendo que a corregulação, nos 
sistemas de pessoas com desenvolvimento típico, amadurece primeiro.
Autoregulação são as estratégias que desenvolvemos, centrados em nós mesmos.
Quando estamos em um estado de
 ansiedade usamos estratégias de autoregulação, como colocar coisas na 
boca (chicletes, balas, comida, café, cigarro), mover as mãos ou pernas,
 levantar, andar, buscamos nos entreter de alguma forma que acalme o 
nosso sistema nervoso. As pessoas com desenvolvimento social típico, 
escolhem estratégias adequadas ao contexto social em que estão no 
momento, já as pessoas com deficits sociais, como no autismo, 
simplesmente buscam a estratégia mais conhecida deles para essa 
autoregulação. Porém, as experiências sensoriais, mesmo de 
autoregulação, provocam em nós uma resposta emocional.
Corregulação depende da troca emocional com o outro.
A capacidade de corregular a 
emoção acontece através da simples presença do outro, do toque, do 
olhar, do tom de voz. As crianças em geral, aprendem melhor através de 
brincadeiras positivas que incluam movimento, de uma maneira que essa 
interação mostre uma intenção clara no relacionamento, sem demandas 
excessivas e fora de contexto. A habilidade do cérebro em organizar 
essas informações relacionais é mais sofisticada se focada nessas 
características englobando o desenvolvimento emocional, do que com o uso
 de palavras explicativas.
As pesquisas na neurociência 
estão ajudando a explicar como e por quê um bom desenvolvimento 
emocional é essencial para entender relacionamentos, pensamento lógico, 
imaginação, criatividade e até a saúde do corpo. Especialistas em 
desenvolvimento concordam que o único fator que otimiza o potencial 
intelectual da criança é um relacionamento seguro e de confiança com 
seus pais e cuidadores. Por isso, o tempo gasto com chamegos, 
brincadeiras, atenção total e uma comunicação consciente com a criança 
estabelece uma relação segura e de respeito que é a base da pirâmide do 
desenvolvimento infantil. Com um sistema emocional seguro, a criança 
consegue se concentrar em explorar o mundo à sua volta, impulsionada 
pela curiosidade
| 
"TODO
 COMPORTAMENTO É IMPULSIONADO POR UMA EMOÇÃO, VOCÊ MUDA COMO UMA PESSOA 
SE SENTE E ASSIM MUDARÁ COMO ELA PENSA E SE COMPORTA." (ERIC HAMBLEN) | 
A capacidade de corregular a 
emoção abre as portas para  outras tantas habilidades importantes no 
desenvolvimento social, como coordenar-se com outra pessoa, seguir e 
compartilhar interesses.
Por volta dos 18 meses de 
idade, crianças com desenvolvimento típico já têm a habilidade de se 
coordenar fisicamente com seus pais, através do movimento de uma forma 
reflexiva e fluente, com pouquíssimo suporte. Com essa habilidade de 
coordenar movimento "masterizada", pode-se mover o relacionamento a um 
patamar verbal com uma troca de interesses, em que podemos compartilhar 
com a criança o que nos interessa e vice-versa.
Pessoas com autismo têm 
dificuldade de desenvolver a corregulação emocional, por isso tendem a 
buscar a regulação através da autoestimulação. Criar jogos e 
brincadeiras que estimulem a coordenação física de movimentos entre duas
 pessoas, como o simples ato de caminhar juntos à uma distância que 
permita uma troca social - esaa distância é no máximo de um braço -, 
fazer atividades diárias juntos, pensadas em uma forma de coordenar o 
movimento como no ato de puxar o lençol juntos para arrumar uma cama, 
carregar cestos e sacolas juntos, já são exercícios que estimulam a 
corregulação.
O cérebro humano tem um grande
 desejo em agradar, em impactar as outras pessoas de forma positiva, 
primariamente.  Somos programados para causar reações emocionais nas 
pessoas à nossa volta. Quando nossos sistemas têm uma desorganização, 
muitas vezes só conseguimos esse impacto emocional através de 
comportamentos opositores e provocativos. Mesmo nesses casos, o cérebro 
ainda receberá uma recompensa emocional mais forte se a pessoa aprender 
estratégias para impactar positivamente os outros. É um processo de 
volta ao curso natural, que não é fácil e imediato, mas extremamente 
necessário para uma melhor qualidade de vida e que depende do 
desenvolvimento da corregulação emocional.
Através da habilidade de 
corregular a emoção, também somos capazes de influenciar a nossa própria
 emoção, isso quer dizer, se eu estou feliz e eu faço você feliz, 
juntos, podemos fazer um ao outro mais feliz. Isso acontece através dos 
meus atos em relação a você. É por meio do compartilhamento do olhar, do
 toque, do tom de voz usado e das experiências, que nós vivemos juntos.
"Através de interações, não 
apenas com seus pares, mas também com outros adultos, além da capacidade
 de adultos e crianças intuitivamente interagirem entre si — para 
compartilhar suas ideias, seus pensamentos, suas experiências juntos, 
com o objetivo de que ambos compreendam e sintam emocionalmente a 
presença um do outro  — e assim sentir a intensidade ou intimidade, é 
que desenvolvemos relações pessoais mais significativas neste mundo." 
(Eric Hamblen)
As pessoas com autismo não 
querem viver isoladas, elas precisam, assim como cada um de nós, do 
convivio e do compartilhamento com outras pessoas. Ajudá-las e 
desenvolver a corregulação emocional, o compartilhamento de sentimentos,
 a ampliação da alegria, dividir suas incertezas e angústias, ter um 
guia para descobrir o mundo são metas a serem seguidas, para que as 
pessoas com autismo e suas famílias tenham uma melhor qualidade de vida.
Marie Dorión Shenk
 é relações-públicas, fez vários cursos sobre autismo, incluindo de RDI,
 nos Estados Unidos e é mãe do Pedro, de 8 anos, e do Luís, de 6 anos — 
ambos estão no espectro do autismo —, além de manter o blog "Uma Voz 
para o Autismo" (UmaVozparaoAutismo.blogspot.com), seu e-mail é 
 autismo@live.com  
http://www.revistaautismo.com.br/edicao-2/capacidade-de-co-regulac-o-emocional-e-autismo